domingo, 7 de junho de 2009

O desgaste da arquitetura moderna no Recife é tema de palestra na Unicap

Por Rebeca Kramer - www.unicap.br

O curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Pernambuco e o curso de pós-graduação em Patrimônio Histórico, aberto há um mês, promoveram, às 19h desta quinta-feira (4), na sala de Multiuso (1º andar do bloco D), a palestra intitulada: “O obituário da Arquitetura Moderna no Recife”, ministrado pelo professor da Universidade Federal de Pernambuco Luiz Amorim.

Segundo a coordenadora do curso de Arquitetura, a professora Andréa Câmara, a palestra foi um evento de finalização do semestre do curso de Arquitetura e Urbanismo. “A gente sempre faz um evento de abertura de semestre e de conclusão, convidando arquitetos e urbanistas de fora para discutir alguns temas. Como a gente tem um curso de pós-graduação na área de patrimônio histórico, decidimos voltar a temática da apresentação para um conteúdo inserido nesse contexto, no caso, arquitetura moderna”, explicou o professora.

O professor Luiz Amorim vem estudando arquitetura moderna já há alguns anos. Segundo ele, em 2003 decidiu fazer um trabalho sobre o panorama dessa arquitetura desde os anos 50 até a atualidade. Durante seus estudos, ele comentou ter procurado uma série de edifícios, mas que não havia os encontrado. Com isso, passou a listar esses patrimônios desaparecidos, como residências, escolas, casas e prédios e realizar, de fato, um verdadeiro obituário arquitetônico. “Na realidade, a ideia do obituário não é só contar sobre aquilo que morreu, mas é sensibilizar as pessoas, a partir dessas perdas, da necessidade da conservação desses imóveis”, revelou.
De acordo com Luiz, os motivos para que esses patrimônios estejam desaparecendo ou morrendo baseiam-se no fenômeno do desuso ou da mudança de uso. O professor levantou a questão de os cinemas da cidade terem acabado por não serem mais viáveis para a indústria cinematográfica. “Pensar num cinema para 800 ou 850 pessoas não funciona devido ao alto custo de manutenção. Agora, as salas são construídas para, no máximo, 200 espectadores”, explicou. Em outros casos, o que ocorre é uma valorização do terreno e não do imóvel. “Então, eu posso derrubar uma casa onde moraria somente uma família e construir um edifício com 40 pavimentos e com 80 casas aéreas. Portanto, sob o ponto de vista mercadológico é muito rentável. Eu vendo 80 casas e compro apenas uma”, ainda comentou Luiz.

O professor exemplificou alguns tipos de edificações, que, no passado, viram-se como escolas, residências e cinemas e que, hoje, representam outros patrimônios. “Muitos dos cinemas da cidade foram destruídos. O Torre, o Cinema Coliseu, o Cinema Moderno. Hoje, o nome do edifício que substituiu o cinema é o Edifício Torre. Casas que talvez não tivessem o reconhecimento grande das pessoas”, revelou. E continuou: “Ou outras que tinham um reconhecimento muito grande da população como a Casa Navio, uma casa em que o engenheiro arquiteto projetou com a intenção transmitir a imagem de um navio ancorado, e, que, após ter sido demolida, nomeou o edifício em seu lugar. Então são essas ironias que eu trabalho”.

Sobre a cada vez maior incidência de casas derrubadas cedendo espaço para a construção de edifícios, Luiz relatou: “Algumas dessas casas mereciam ser preservadas; outras, talvez não. Acho que a grande questão é saber se a nossa cidade precisa de uma verticalização acentuada e se nós não precisaríamos também de algumas dessas residências a fim de manter uma cobertura vegetal adequada e contar uma história da cidade que, se a gente não preservar, ela vai embora”.

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